31 de outubro de 2014

Um modelo primata para a Doença de Alzheimer

oligomeros

Oligômeros de beta-amiloide (em vermelho) no córtex
cerebral de macacos.

Pesquisadores do IBqM injetaram no cérebro de macacos pequenos fragmentos (oligômeros) da proteína beta-amilóide. Esses oligômeros são conhecidos por terem a atividade de toxinas e se acumularem no cérebro de pacientes com a doença de Alzheimer.

Os oligômeros injetados no cérebro de macacos se difundiram, migraram e se acumularam em áreas relacionadas à formação da memória produzindo, assim, nas células do sistema nervoso central, as alterações típicas de estágios avançados da Doença de Alzheimer. Dessa forma, o grupo da UFRJ conseguiu desenvolver um modelo primata para a Doença de Alzheimer.

O estudo foi coordenado pela Profa. Fernanda De Felice (IBqM) em parceria com o Prof. Douglas Muñoz, da Queen’s University. A Dr. Leticia Forny-Germano, pós-doutora do IBqM, juntamente com os alunos de Doutorado do IBqM Natalia Lyra e Silva e Andre Batista formam os responsáveis por caracterizar os efeitos dos oligômeros nos cérebros dos primatas. Com o objetivo de entender como a doença de Alzheimer se instala em um cérebro saudável, a Dr. Leticia Forny-Germano observou os efeitos da injeção de oligômeros no ventrículo lateral, que são as cavidades naturais do cérebro onde é produzido o líquido cefalorraquidiano, que banha todo o encéfalo. A ideia era justamente não determinar um local para inserir a substância, e sim dar liberdade aos oligômeros de se direcionarem para diferentes locais no cérebro.

Tanto em ratos como em macacos-cinomolgos (Macaca fascicularis), os pesquisadores observaram que os oligômeros se acumularam no córtex frontal, no hipocampo e em várias áreas associadas à memória e a aspectos cognitivos. De maneira interessante, danos semelhantes aos que acontecem no cérebro humano foram observados nos cérebros dos macacos, como perda de sinapses nos neurônios e alterações na proteína tau, responsável pela formação de microtúbulos que estabilizam os prolongamentos dos neurônios. Essas proteínas tau alteradas formaram os emaranhados neurofibrilares, uma alteração típica de estágios avançados da doença. Os emaranhados neurofibrilares comuns no cérebro humano e observados agora nos macacos não foram observados no cérebro de roedores, em geral usados como modelos para o estudo do Alzheimer. É importante ressaltar que não existem estudos mostrando a formação dos emaranhados apenas pela ação dos oligômeros em roedores, a menos que esses roedores tenham mutações que não associadas com a doença de Alzheimer.

Assim, sem mutações, o grupo da Profa. Fernanda De Felice foi capaz de induzir uma característica central na doença de Alzheimer. O estudo é inovador, pois até hoje não haviam estudos reproduzindo os danos que o Alzheimer causa em humanos em cérebros de primatas. O estudo forneceu informações importantes sobre o desenvolvimento da doença e também demonstrou a necessidade de se usar primatas como modelo para se chegar a uma compreensão mais adequada de como se instala o Alzheimer, além de possibilitar o teste de possíveis tratamentos. O artigo descrevendo esse modelo primata da Doença de Alzheimer foi publicado no periódico internacional The Journal of Neuroscience, em Outubro de 2014, e contou com a participação dos Professores Sergio Ferreira, do IBqM e do Professor Jean-Christophe Houzel do ICB, ambos da UFRJ.

Alguns comentários a respeito do trabalho na mídia nacional e internacional:

Highlight da Nature: http://www.nature.com/nature/journal/v514/n7522/full/514276e.html

Highlight da Science: http://www.nature.com/scibx/journal/v7/n41/dtech_index.html

Link do forum de discussão de pesquisa em Alzheimer para pesquisadores e publico leigo http://www.alzforum.org/news/research-news/can-monkeys-model-alzheimers-better-rodents

Site FAPESP http://revistapesquisa.fapesp.br/2014/10/08/um-novo-modelo-para-o-alzheimer/

Site da Academia Brasileira de Ciências http://www.abc.org.br/article.php3?id_article=3634

G1 :http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2014/10/brasileiros-criam-metodo-para-estudar-danos-do-alzheimer-ao-cerebro.html

Referência do artigo: Forny-Germano et al., “Alzheimer’s Disease-Like Pathology Induced by Amyloid-b Oligomers in Nonhuman Primates”. The Journal of Neuroscience, October 8, 2014 •34(41):13629 –13643.

Acesse também o artigo original no site da revista The Journal of Neuroscience.  

Aviso

Todo o conteúdo publicado no texto acima é de responsabilidade do seu autor.

Sobre o autor Fernanda De Felice

Fernanda De Felice Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1994), Mestrado em Química Biológica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997), Doutorado em Química Biológica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Pos-Doutorado em Neurobiologia da Doenca de Alzheimer pela Northwestern University (EUA). Atualmente é Professora Adjunta da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Neurobiologia da Doenca de Alzheimer e suas ...