Publicado em 24/06/2013

Conferência no Canadá discute integridade em pesquisas científicas

A 3ª Conferência Mundial sobre Integridade em Pesquisa (3rd World Conference on Research Integrity) aconteceu no último mês de maio, em Montreal, no Canadá. O evento contou com palestrantes de todo mundo, e serviu para a discussão e reflexão sobre temas como plágio e fraude em pesquisas científicas.

O Brasil foi escolhido para sediar a 4ª Conferência sobre o tema, que acontecerá em 2015. Uma das razões para esta conquista é o fato de o país ser o único da América Latina a promover eventos regulares sobre o tema, como o BRISPE (Brazilian Meeting on Research Integrity, Science and Publication Ethics).

A pesquisadora Sonia Vasconcelos, do IBqM, foi uma das participantes do evento canadense. Nesta entrevista, ela aborda alguns pontos que foram discutidos na Conferência, e comenta a participação de outros grupos, tanto brasileiros quanto estrangeiros.

1) O que você apresentou na 3ª Conferência Mundial sobre Integridade em Pesquisa no Canadá e quais foram os destaques das apresentações de outros brasileiros?

Apresentei um panorama geral do progresso das discussões e ações sobre integridade científica e conduta responsável em pesquisa (RI/RCR) no país nos últimos anos. Na apresentação “Research Integrity in Brazil: Where We Are? What’s Next?”, indiquei que em pouco menos de 4 anos – quando essa discussão começou a ter maior visibilidade no nosso país – o Brasil deu um salto bem importante, deixando, aos poucos, de ser um “espectador” para ser um participante no cenário mundial.

O Brasil estava em posição de destaque nas plenárias de abertura e tinha uma representação oficial do CNPq no evento, através do Professor Paulo Beirão. Essa inserção da “voz” do país sobre essa temática no cenário mundial vem sendo bem marcada, por exemplo, por sermos o único país da América Latina a organizar eventos regulares/nacionais sobre o tema, como o Brazilian Meeting on Research Integrity, Science and Publication Ethics (BRISPE), que já ganhou um bom reconhecimento de organizações como a NSF [National Science Foundation] e os NIH [National Institutes of Health]. O Brasil foi há poucos dias citado numa publicação na Science, como um daqueles que vêm se envolvendo com a temática. Isso é bem verdade e está visível inclusive na liderança do país na organização de um encontro histórico dos Conselhos de Pesquisa de pelo menos 70 países.

Esse encontro é o do Global Research Council, http://www.globalresearchcouncil.org/meetings/2013-meeting , que ocorreu em Berlim entre 27 e 29 de maio, e foi organizado pelo CNPq e pela Fundação Alemã para a Pesquisa (DFG). O encontro foi dedicado à discussão da integridade científica e medidas para fomentá-la, além de mecanismos de ampliação de acesso ao conhecimento, olhando especificamente para o tópico de “open access”. Na conferência mundial, destaquei também iniciativas no âmbito educacional, com criação de disciplinas e organização de oficinas que, embora numa fase inicial, vêm contribuindo para ampliar a abordagem das questões no nosso ambiente de pesquisa. Dentre as contribuições das quais participei como co-autora está uma sobre conflitos de interesse na comunicação científica, sobre o impacto da discussão da integridade em pesquisa na formação de membros de CEPs (Comitês de Ética em Pesquisa) e sobre mudanças relativas à gestão do tema nos cenários institucionais do país.

Por exemplo, o Professor Edson Watanabe, diretor de assuntos acadêmicos da COPPE, fez uma belíssima apresentação sobre como essa temática vem mudando o cenário acadêmico da COPPE no que diz respeito à formação de mestrandos e doutorandos na instituição. Além da UFRJ, a PUCRS, a UNIFESP e a UERJ estavam representadas e contribuíram bastante com os trabalhos. A Professora Rosemary Shinkai, por exemplo, que representa com enorme competência o Brasil no Committee on Publication Ethics (COPE), uma organização internacional que mais influencia as ações sobre ética em publicações, falou sobre consensos internacionais no âmbito da ética em publicações em periódicos ibero-americanos. Trabalhar esse tópico é extremamente relevante para que também possamos sair cada vez mais da posição de “espectadores” no cenário de políticas editoriais, para a de participantes.

2) Quais foram os pontos altos da conferência?

Dentre os pontos altos da conferência, destacaria a discussão travada numa plenária sobre ética em publicações, escrutínio dos pares e correção da literatura acadêmica. Essa plenária foi liderada pelos pesquisadores Veronique Kiermer, uma das editoras da Nature, Ivan Oransky, criador do Retraction Watch, e David Wright, diretor do Office of Research Integrity dos Estados Unidos Um outro ponto alto foi uma reflexão sobre a auto-regulação da ciência, numa plenária em que o Professor John Ioannidis, da Universidade de Stanford, ressaltou alguns pontos críticos sobre esse conceito, sua relação com a apropriação do conhecimento científico, e alguns desafios contemporâneos para a comunidade de pesquisa. Também destacaria a discussão sobre o Montreal Statement, http://wcri2013.org/Montreal_Statement_e.shtml , uma declaração decorrente da conferência e que reflete a complexidade do tema no contexto das redes de colaboração em pesquisa, cada vez mais plurais.

Para nós brasileiros que estávamos lá, um ponto altíssimo também foi o Gala Dinner, onde anunciaram que o Brasil sediaria a 4ª mundial! Será no Rio, em 2015! Foi super emocionante e nos deu a clara dimensão do espaço que a “voz” do país está ganhando nesse contexto internacional. Olhando essas conquistas do ponto de vista da educação e gestão em ciências, temos bons resultados, e o PEGeD/IBqM e a COPPE na UFRJ têm contribuído na linha de frente dessas ações. Entretanto, temos muito o que avançar e sabemos que as questões educacionais começam bem antes da graduação. Acreditamos que com a parceria que temos estabelecido com diversas instituições brasileiras, através de colegas da PUCRS, FIOCRUZ, CBPF, UNIFESP (que inclusive se uniram à UFRJ na proposta para a a 4ª mundial), dentre outras, poderemos contribuir de forma mais ampla para que esse momento - na minha percepção bom e promissor - de discussões sobre produção científica, avaliação e formação de jovens pesquisadores resulte em um ambiente acadêmico mais saudável, colaborativo e, quem sabe, mais criativo.