Publicado em 06/11/2014

Entrevista com Daniel Leão, primeiro mestre formado pelo MP-EGeD

Em outubro deste ano tivemos a primeira defesa de dissertação realizada pelo recentemente criado Programa de Mestrado Profissional em Educação, Gestão e Difusão em Biociências, o MP-EGeD.

O trabalho apresentado teve como tema “A produção audiovisual como recurso paradidático no ensino da neuroanatomia funcional do cerebelo” e foi desenvolvido pelo aluno de mestrado Daniel Silva Leão, orientado pelo Professor Hatisaburo Masuda, membro do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis.

Além de ser a primeira dissertação do programa, o trabalho contava ainda com uma outra característica especial: o Daniel desenvolveu o projeto em Belém no Pará(!) e vinha frequentemente ao Rio de Janeiro para dar andamento à sua dissertação.

Fizemos uma entrevista com ele na intenção de conhecer um pouco mais sobre a sua trajetória, suas motivações e suas intenções com o desenvolvimento do trabalho, além das dificuldades que encontrou ao longo dessa jornada.

.: Entrevista com o Mestre Daniel Silva Leão :.

IBqM: Oi Daniel, você poderia nos falar um pouco sobre o seu trabalho e sobre como surgiu a ideia de propor um projeto com esse tema?

Daniel Leão: O Grupo de pesquisa em Neurociências, coordenado pelo Prof. Cristovam Wanderley Picanço Diniz e sediado no Hospital Universitário João de Barros Barreto -- instituição de assistência, ensino e pesquisa ligado à Universidade Federal do Pará, em Belém -- vem já há algum tempo investigando formas de melhorar o processo de aprendizagem de seus estudantes. Uma das formas que vem sendo estudada é a utilização de metodologias ativas no processo de aprendizagem. Considerando que estudos na área da ciência cognitiva sugerem que os alunos devem fazer algo mais do que simplesmente ouvir para ter uma aprendizagem efetiva, entendemos que é necessário repensar estratégias para levar o aluno a formar uma consciência crítica, identificando, analisando, avaliando e sintetizando o mundo e os fenômenos que os cercam. Em resumo, baseado na literatura, a aprendizagem ocorre de forma ativa, quando o aluno interage com o conteúdo estudado através de múltiplas estratégias: lendo, escrevendo, pesquisando, experimentando.

IBqM: Quais objetivos você pretendia alcançar com seu projeto e como ele foi feito?

Daniel Leão: Neste trabalho, buscou-se a utilização do vídeo como tecnologia mediadora para apresentar a realidade a ser experimentada pelos alunos e a forma de organizar a atividade foi baseada na metodologia da Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL). Nesta dissertação procurou-se aplicar estas estratégias como auxílio no processo ensino-aprendizagem de uma síndrome conhecida como Ataxia. A Ataxia é entendida como a falta de ordem ou coordenação e pode ser definida clinicamente como um transtorno da atividade muscular coordenada (GODEIRO, et al., 2007), provocada pelo comprometimento do cerebelo.  No projeto, o caso de uma família residente no município de Vigia de Nazaré, localizada no nordeste do estado do Pará, acometida pela síndrome, foi registrada em vídeo e apresentada aos alunos no formato PBL em dois momentos distintos: no primeiro momento, os alunos foram apresentados, através do vídeo, aos fatos observados naquela família.  No segundo momento, os alunos foram conduzidos, pelo professor, a discutir os fatos observados e levantar os problemas encontrados. Na etapa seguinte, a de teorização, com base nos pontos-chave identificados, os tópicos a estudar ou perguntas a responder foram listados. A seguir realizou-se a etapa de estudo, onde os alunos buscaram referências bibliográficas ou documentais.

A etapa das hipóteses e soluções é o momento em que os alunos, baseados em seus estudos, sugeriram a solução dos problemas identificados (BERBEL, 1998). Tendo como fundamentação o processo de aprendizagem baseado em metodologias ativas, um vídeo documental com 15 minutos de duração foi produzido para que o Professor possa utilizá-lo dentro desta proposta de ensino. Para realizar este trabalho, foi necessário investigar as origens e as teorias de utilização de imagens para fins didáticos, imagens em movimento, novas tecnologias como animação por meios digitais e teorias de aprendizagem.

IBqM: Quais foram as maiores dificuldades que você teve ao longo do desenvolvimento da sua dissertação?

Daniel Leão: Sem dúvida minha maior dificuldade foi comparecer a todas às aulas. As etapas de planejamento, captura de imagem e execução do vídeo final foram realizadas ao longo de 2 anos, mas a parte exploratória foi realizada em aproximadamente 8 dias. Mas para comparecer às aulas durante os 2 anos de curso, eu precisei sair de Belém todas às quartas-feiras pela madrugada, pegar um vôo de 3 horas de duração até o RJ e passar todas as quintas-feiras participando de atividades para, no final do dia, voltar para o aeroporto, pegar um vôo de volta e chegar em Belém por volta das 2:30h da manhã. Só conseguia parar para dormir por volta das 3:30h, tendo que acordar às 6hs, para às 8hs da sexta-feira estar ministrando aulas. Então esta foi uma jornada muito cansativa, além de dispendiosa. Algumas vezes, cheguei a ir ao Rio assistir aula só com a passagem de dia e tentava, ao longo da quinta-feira, conseguir a passagem de volta. Confesso que por algumas vezes não consegui. Mas quando isso aconteceu, tive a ajuda do Prof. Masuda, meu orientador no Rio, que me abrigava em sua residência.

IBqM: Por que optou pelo mestrado profissional e por que no IBqM/UFRJ?

Daniel Leão: Eu sou arquiteto e, em meados de 2005, fiz uma especialização em desenvolvimento de sistemas por que o mercado de Belém/PA começara a demandar profissionais que trabalhassem com o ambiente web. Este caminho me levou até o curso de comunicação social multimídia no IESAM (Instituto de Estudos Superiores da Amazônia), no qual ingressei em 2007, passando à vice-coordenação do curso em 2009. Confesso que as discussões sobre eficiência no ensino sempre despertaram minha atenção. Depois que meu primeiro sobrinho nasceu, minha atenção ao processo de formação dele, e depois dos seus outros 2 irmãos que vieram nos anos posteriores, só aumentaram. Quando assumi a vice-coordenação do curso de comunicação, comecei a fazer alguns cursos na área do audiovisual e da fotografia. Assim cheguei até um curso de produção de vídeos de caráter científico, o qual despertou meu encantamento pelo uso do vídeo como ferramenta de ensino. Isso automaticamente me fez pensar na educação dos meus sobrinhos e como poderia contribuir com um diálogo mais eficiente entre eles, a TV e eu. Me candidatei, junto ao professor, a ajudar no que fosse preciso em projetos desta natureza. Assim, cheguei até o grupo de pesquisa do LNI, coordenado pelo Prof. Cristovam, que posteriormente me apresentaria um projeto com a pretensão de levar o vídeo para a sala de aula.

O projeto então iniciou no final de 2010, quando busquei, ainda em Belém, linhas de pesquisa nas quais pudesse ancorar meu projeto. Infelizmente devo dizer que não fui muito bem recebido. Os grupos, além de poucos, eram muito fechados e não davam muita oportunidade de uma experiência multidisciplinar! O Prof. Cristovam, então, tendo cursado a pós-graduação no IBqM, me indicou para avaliação com o Prof. Masuda, que poucos meses depois me recebeu e me indicou como orientando ao Mestrado Profissional.

IBqM: Quais são suas pretensões com seu título de Mestre?

Daniel Leão: Quero muito fazer desta investigação algo maior. Pretendo dar continuidade às investigações, agora em nível de Doutorado, buscando respostas a outros questionamentos que ainda não estão muito bem definidos, mas que certamente envolverão o cenário de educação, tecnologias, metodologias e o potencial que estes elementos têm em transformar a vida de nossa sociedade.

IBqM:  Agradecemos por participar da nossa entrevista e desejamos todo sucesso na sua carreira!