Publicado em 21/08/2018

Esquistossomose: Descoberta de um novo alvo para o tratamento da fibrose hepática

Rio de Janeiro, 22 de agosto de 2018.

Pesquisadores do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ deram um passo largo no tratamento da Esquistossomose, uma doença parasitária grave que afeta milhões de pessoas no mundo e ainda representa um importante problema de saúde pública no Brasil.

A pesquisa, liderada pelo Prof. Marcelo Fantappié, identificou a proteína HMGB1 como um potente sinalizador para o sistema imunológico de que existe agentes antigênicos no fígado. Esses agentes antigênicos são provenientes dos ovos depositados pelo parasita Schistosoma mansoni.

O estudo acabou de ser publicado na importante revista científica “Frontiers in Immunology” (Fronteiras da Imunologia). Uma pessoa infectada pelo parasita pode conter milhares de ovos retidos no fígado. Os ovos do parasita são muito agressivos e o sistema imunológico do hospedeiro tenta combate-los de todas as maneiras, levando ao excesso de resposta imunológica e danificando e comprometendo principalmente o fígado, mas o baço e intestino também são afetados.

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‘Os nossos estudos revelaram que a proteína HMGB1 presente nos hepatócitos (células do fígado) reconhece a presença da infecção, é liberada na circulação sanguínea e então dispara um arsenal de defesa contra os ovos no fígado. A HMGB1 é então denominada de alarmina. É justamente esse excesso de resposta inflamatória que acaba gerando o que se conhece por fibrose, com acúmulo excessivo de colágeno no tecido hepático. Essa fibrose leva a uma hipertensão de todo o sistema vascular do fígado (sistema porta hepático), gerando um inchaço severo no abdômen, conhecido por barriga dágua”. Essa condição compromete muito a vida do indivíduo.

img1O estudo fez parte da tese de doutorado de Amanda Vicentino, e continuou durante o seu pós-doutorado no laboratório da UFRJ. Foram 8 anos de pesquisas e que hoje se reflete num real avanço terapêutico contra a esquistossomose.

Segundo o Prof. Marcelo Fantappié, essa pesquisa representa um importante avanço no tratamento da esquistossomose. “Até hoje não existe um tratamento eficaz para a patologia. O que existe é uma droga (o Praziquantel) que mata os parasitas adultos. Entretanto, mesmo os parasitas sendo eliminados, os ovos já postos estarão constantemente gerando respostas inflamatórias no fígado. A nossa proposta é justamente usar drogas anti-inflamatórias especificamente contra a ativação da proteína HMGB1”. No estudo publicado os pesquisadores utilizaram uma droga protótipo sintetizada pelo próprio grupo da UFRJ em colaboração com o Instituto Militar de Engenharia (IME), com efeitos muito promissores. A droga foi idealizada pela Dra. Amanda Vicentino, que é graduada em Química e pós-graduada em Bioquímica.

“Um passo importante dos nossos estudos foram os resultados com pacientes humanos esquistossomóticos, em colaboração com a Fiocruz-Minas, ressalta o Prof. Fantappié.

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Com a recente publicação do estudo, os pesquisadores estão otimistas que algum grande laboratório farmacêutico se interesse pelo problema e invista na produção do anti-inflamatório que tenha como alvo a proteína HMGB1.

Os pesquisadores da UFRJ reconhecem o importante apoio financeiro do CNPq e FAPERJ, com editais focados em financiamentos para pesquisas em doenças tropicais. Esse estudo é 100% nacional, com pesquisadores e investimentos genuinamente brasileiros”; isso confirma mais uma vez que quando se tem investimento em ciência e tecnologia, o país avança como um todo, ressalta o Prof. Marcelo Fantappié”.

Acesse o artigo publicado no postal na revista Frontiers clicando aqui.